Para muitas mulheres, significa o nascimento palpável de uma nova realidade. A chegada de um filho muda muitas coisas… Ela remexe sentimentos, desperta novas emoções e esse momento é tido como um novo despertar para cada mãe que também nasce ali. E quando as coisas não saem como o esperado e esse momento é permeado por violência, as mulheres sofrem um luto que custam a reconhecer: são vítimas de violência obstétrica.
O Brasil é um dos países com uma das maiores taxas de mortalidade materna por causas evitáveis. Dentre elas, podemos citar a hemorragia, hipertensão, infecções e complicações de aborto. Elas são consideradas evitáveis pois são frutos, justamente, de uma má assistência pré-natal à mãe e, após o parto, também ao recém nascido.
Diversas mulheres não recebem informações o suficiente – ou adequadas – acerca da sua gestação, desde os seus direitos básicos aos parâmetros sugeridos e incentivados pela Organização Mundial da Saúde. Na assistência básica de saúde pública brasileira, mulheres ainda precisam enfrentar a desigualdade de gênero, a discriminação racial e a disparidade de classes sociais.
Frases como “quando fez não reclamou”, “para de ser preguiçosa e faz força”, “já vou trazer seu remedinho” estão constantemente entre relatos potentes e cheios de dor de mães que, em seu momento especial, foram vítimas da violência obstétrica. Quando a violência não é dita indiscretamente, ela pode ser institucionalizada: negação à mulher do seu direito a um acompanhante de livre escolha, incentivo às cirurgias cesareanas, falta de analsegia em casos de episiotomia e omissão/negação do seu plano de parto.
Passar por uma violência como essa pode causar um trauma profundo na vida de uma mulher, que se estende para além do puerpério. São cada vez mais comuns e debatidos os casos de depressão pós-parto e solidão materna durante o puerpério. Isso afeta até mesmo a relação da mãe com seu bebê e a conexão que se constrói com um filho nesse momento.
Isso fica ainda mais preocupante quando o Ministério da Saúde disponibiliza uma caderneta da gestante (2022) com incentivo à prática banida pela Organização da Saúde (chamada Manobra de Kristeller, em que se coloca pressão sobre a barriga da mãe para “empurrar” o feto), definições negadas pela ciência em relação à fertilidade feminina e incentivo à cesareana a pedido.
É preciso fazer um adendo que não podemos – ou devemos – demonizar a cirurgia cesareana. Em muitos casos, ela é necessária e garante à mãe e seu filho um parto seguro e sem intercorrências. Contudo, a mulher deve ser munida de informações desde o seu pré-natal, para que ela possa definir suas escolhas com embasamento, segurança e suporte profissional, e tenha todo o amparo – médico e psicológico – durante o seu parto.
Como mudar essa realidade no Brasil? Ainda que falar sobre um trauma seja difícil, há muitas mulheres corajosas denunciando casos de violência obstétrica e encorpando o debate sobre os direitos obstétricos de mulheres brasileiras. Há muitas metas a serem alcançadas para que possamos ter uma realidade de partos seguros e humanizados para mulheres e seus filhos, cujas escolhas femininas sejam respeitadas e todo o processo da gestação seja tranquilo, afetivo e igualitário.
Se você foi mãe e passou por esse luto simbólico da violência obstétrica, busque orientação profissional. Lidar com traumas é uma jornada difícil, mas que nos leva à uma nova construção de quem podemos e queremos ser a partir de experiências que nos trouxeram dor, mas que podemos superar. Conte com um suporte psicológico de confiança!